domingo, 25 de dezembro de 2011

Qual o segredo do Barcelona??


Muito trabalho, treinamento, disciplina e planejamento.

Nesta postagem vou exibir uma sequência de 2 vídeos desenvolvidos pela UEFA TRAINING GROUND a respeito do sucesso da Seleção Espanhola.
No período entre 1995 e 2010, a Espanha conquistou nove provas da UEFA, desde o escalão de Sub-16 até ao Sub-19, uma era na qual conseguiu também seis segundos lugares. Um sistema que produziu vencedores do Campeonato do Mundo, como Fernando Torres, Sergio Ramos e Andres Iniesta. Qual o segredo do sucesso de Espanha? Perguntamos isso mesmo aos principais responsáveis da RFEF para tentar perceber.


Neste 1º vídeo alguns dos responsáveis pelo sucesso do futebol espanhol foram entrevistados, confira no link:
http://pt.uefa.com/trainingground/grassroots/features/video/videoid=1634980.html?autoplay=true 



 No 2º video é observado o investimento nas seleções de base da Espanha a garantia do sucesso  no futuro.

Na segunda parte da investigarão do UEFA Training Ground sobre o êxito das seleções jovens da Espanha, falamos com algumas figuras importantes envolvidas no processo e descobrimos como os mais novos são ensinados desde cedo e praticar determinado estilo de jogo e a porque estão confiantes de que o sucesso da seleção principal do país pode continuar por muitos anos.



Após observar estes vídeos fica claro o porque da obra de arte que vimos a poucos dias na Final do Campeonato Mundial de Clubes 2011.

Temos muito o que aprender, apesar de sempre sermos reconhecidos como o futebol arte, de excelente posse de bola, ficamos espantados ou  melhor encantados com o que vimos.
O que nos falta? Será qeu chegaremos lá? Será mesmo que estamos muito longe do Topo?
O Brasil tem o que é preciso para voltar a estar no TOPO, basta apenas uma maior e melhor PROFISSIONALIZAÇÃO do donosso amado DESPORTO.

Fico por aqui, desejando a todos um Feliz Natal e um Ano Novo  Repleto de realizações, saúde e sucesso.
Grande abraço a TODOS!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A ação do treinador: dos gritos à descoberta guiada.


        “Para mim liderar não é mandar, para mim liderar é guiar”
 José Mourinho

Ser treinador de futebol não é nada fácil...”: essa frase muitas vezes remete à instabilidade do cargo, mas nesta coluna tal afirmação serve muito bem para ilustrar a complexidade da ação desse profissional dentro do processo de treino.
Em um processo de treino pautado na complexidade, a ação do treinador interfere diretamente na dinâmica de toda a atividade, modificando os objetivos e as ações dos jogadores dentro do treino.
No estudo de Rampinini e outros autores (Factors influencing physiological responses to small-sided soccer games), podemos observar como a intervenção do treinador modifica diretamente os parâmetros físicos das atividades.
Nesse estudo, os autores submetem os jogadores a jogos reduzidos com e sem a intervenção verbal dos treinadores. A frequência cardíaca, concentração de lactato sanguíneo e na percepção subjetiva de esforço foram mesurados e analisados em cada atividade.
Os dados mostram que quando há a intervenção ativa com estímulo verbal do treinador, há um incremento em todos os parâmetros observados; já quando não há a intervenção do treinador, esses dados sofrem uma queda significativa. Sendo assim, podemos concluir que a ação do treinador interfere diretamente no estímulo físico dentro dos jogos reduzidos.
Contudo, não basta incentivar verbalmente os jogadores para que eles corram mais, ou gritar se eles cometerem algum erro dentro da atividade: é preciso saber guiar todo o processo!
Guiar todo o processo significa orientar os jogadores para aquilo que se espera dentro do jogo. Na base, essa orientação vai além do jogo e se foca (pelo menos deveria) no desenvolvimento de jogadores inteligentes e como visão crítica sobre o jogo, e não simplesmente obedientes taticamente.
O treinador precisa traçar os objetivos e guiar os jogadores ao longo do caminho. Nesse âmbito, a dura ou a repreensão pode e deve ser utilizada em momentos pertinentes, pois formar muitas vezes requer esse tipo de intervenção (claro que com toda a ação pedagógica embutida).
Para José Mourinho, os jogadores precisam ser estimulados a discutir, questionar, experimentar. Tudo com a supervisão e orientação de toda a comissão, que não deve deixar que isso se torne em uma grande discussão, na qual qualquer raciocino é permitido.
A discussão precisa ter um norte, que evolui a cada treino e não deixa que os jogadores se acomodem em questões antigas. Nesse processo, denominado de “descoberta guiada” pelo treinador português, não há estagnação e as discussões evoluem a cada treino e a cada jogo.

Sabemos que cada atividade tem seu objetivo e nosso papel como professor em sua essência deve ser de levar os atletas a entender e avaliar a eficiência de suas ações jogo a jogo, treino a treino.

Em suma, precisamos guiar o processo e não trazer respostas prontas com conteúdo vazio de significado para os atletas.
Lembre-se que esse guiar passa pelos aspectos físicos, técnicos e mentais do jogo, e não apenas pela tática.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Evolução da periodização no futebol: uma questão epistemológica (Parte 1)

Texto retirado  do site da Universidade do Futebol, este artigo de extrema relevância que nos faz refletir melhor sobre nosso  AMADO FUTEBOL.

“Será que no futebol ganha quem salta mais? 

Quem corre durante mais tempo? Quem é mais rápido? 

Ou será que normalmente ganha quem joga melhor futebol?”

Uma análise sobre a preparação física e os treinamentos, suportados pela abordagem sistêmica
William Sander Figueiredo,Renato Buscariolli de Oliveira,Renato Buscariolli
A palavra “periodização” deriva da palavra “período” e nada mais é do que a divisão do tempo em pequenos seguimentos, ou ciclos de treinos, com características e objetivos específicos determinados de acordo com a especificidade de cada desporto. O objetivo desta divisão é facilitar a organização e adequação das cargas de esforço para cada momento do ano competitivo visando o aumento da performance.

Tradicionalmente, a periodização do treino tem assentado numa base predominantemente referenciada aos aspectos de adaptação morfológica, fisiológica ou bioquímica do organismo. Esta perspectiva, embora produtiva quando se pretende resolver questões mais restritas, apenas traduz uma visão parcelar e fragmentada do processo de treinamento em modalidades coletivas complexas como o futebol. Nesse sentido, citamos abaixo as duas primeiras “escolas” de periodização, bastante solidificadas e difundidas na ciência do treinamento. 

A primeira delas (também denominada “tradicional”), originária do Leste Europeu e proposta pelo soviético Lev Pavlovic Matveiev em 1950, caracteriza-se pela divisão da época desportiva em períodos, estruturados para atingir “picos de forma” em determinados momentos competitivos. Este modelo de preparação confere primazia à variável física, assente numa preparação geral e não possui qualquer ligação com a forma de jogar. Deste modo, preconiza um processo abstrato centrado nos fatores da carga física, através de métodos analíticos. A segunda “escola” (também denominada “contemporânea”), com origem nos países do Norte da Europa e América do Norte tem como ícone Yuri Verkhoshansky e tentou transcender o caráter universal da primeira tendência, dando grande importância ao desenvolvimento das capacidades físicas exigidas na competição. Desde então, exacerbou-se a avaliação das cargas através dos testes físicos procurando conhecer assim, a forma dos jogadores. Além disso, esta tendência de treino caracteriza-se por desenvolver a variável física, técnica e psicológica em separado. 

Na busca de adequar a preparação dos atletas às necessidades requeridas no futebol moderno e a tentativa de integrar as diferentes áreas do conhecimento ligadas à modalidade, novas propostas de periodização surgiram: cargas ondulatórias (Tschiene, 1990) e o modelo de Cargas Seletivas (Gomes, 2002). Essas novas propostas (principalmente a última) podem se adentrar em uma tendência designada “Treino Integrado” - onde os aspectos físicos, técnicos e táticos são desenvolvidos conjuntamente – e procuram promover uma maior semelhança com as exigências da competição conferindo uma grande importância ao jogo e à sua especificidade. 

Um “pit stop” reflexivo do conteúdo abordado até aqui nos permite visualizar que a tendência da preparação física no futebol ao longo dos tempos é de se aproximar cada vez mais do jogo em si. Essa aproximação por sua vez, coloca essa área no mesmo patamar de outras não menos importantes (psicologia, nutrição, pedagogia, etc) evidenciando a tão citada interdisciplinaridade. Na prática isso significa que a preparação física não mais será o “norte” no planejamento de uma equipe para uma determinada competição. Isso quer dizer que o preparador físico tonar-se-á “menos importante?” Ou que não será mais necessária a preparação física? Ou agora serão os técnicos e técnicos adjuntos que se responsabilizarão por essa área, acabando com a figura do “especialista” – preparador físico - no futebol? Caro leitor, muito calma nessa hora...

Como já explícito, a estruturação de todo o processo de planejamento e periodização do treino em futebol, passou e ainda passa pelo componente dito “físico”. A periodização física convencional está instituída no futebol e apesar de parecer desajustada ainda prevalece metodologicamente como núcleo central de preparação. Teodorescu (2003) salienta que grande parte das opiniões e teorias da psicologia, da pedagogia bem como da teoria da educação física sobre o jogo, são formuladas a partir de posições biológicas e biogizantes. De fato, no desporto de rendimento está fortemente enraizada a crença de que a excelência no desempenho desportivo pode ser obtida mediante a melhoria na condição física (Tani, 2001). Historicamente, esta crença deve-se à grande influência exercida pela Fisiologia do Exercício, que apresenta uma perspectiva eminentemente energética de movimento. 

Surge-nos assim vincado aquilo que podemos designar por um paradigma da dimensão física do treino, que realça a importância da dimensão física no seio do Planejamento e Periodização. Ao referenciarmos a performance a partir de fatores energéticos, biomecânicos e das características fisiológicas dos jogadores, os comportamentos destes serão perspectivados enquanto produto de uma maior ou menor adequação do organismo às exigências energéticas e funcionais do jogo, tendo em conta a unidade entre o estímulo e a resposta, desconsiderando as configurações tácticas que os induzem (Garganta et al, 1996). Isso impede uma tomada de consciência molar dos problemas do jogo, dado que não serão equacionadas as interações que se estabelecem no seio da equipe, entre os jogadores, face à relação de oposição – cooperação. 

Assim sendo, apesar da investigação científica ter inferido uma relação causa-efeito de caráter bio-fisiológico na aplicação dos métodos de treino baseados na coerência estrutural daquilo que convencionalmente se denomina componentes da carga (volume, densidade, intensidade e freqüência), isso nada nos elucida sobre a eficácia do comportamento motor utilizado pelos jogadores para a resolução de uma situação competitiva qualquer. Compreender a ação biológico-fisiológica dos exercícios é importante e necessária por parte daqueles que estão aplicando o treino para conhecer o efeito imediato, assim como os efeitos crônico-adaptativos de uma determinada sessão, microciclo ou mesociclo (Tscheine, 1987). No entanto, as modalidades desportivas de caráter aberto, como o futebol, não podem desenvolver os seus métodos de treino partindo simplesmente do manuseamento das denominadas componentes da carga.

Dessa forma, podemos dizer que a “preparação física” no futebol atravessa de forma lenta e gradativa (como é o progresso da ciência) uma mudança paradigmática e epistemológica. Os fatos nos levam a crer que não mais o componente biológico seja o norteador do planejamento de uma equipe, independente do seu nível e/ou faixa etária. A Periodização (divisão) continua, porém muda o seu foco. Talvez a “Periodização Tática” (“processo de preparação centrado na operacionalização de um “jogar” através da criação e desenvolvimento contínuo do Modelo de Jogo” – Vitor Frade, 2006) que é para muitos algo novo, desconhecido, seja a norma dentro do futebol em um futuro próximo. Cabe a nós, profissionais da bola, “corrermos atrás” das mudanças, nos adequarmos e nos reciclarmos. A abordagem sistêmica cada vez mais ganha espaço dentro dessa modalidade. Contudo, profissionais completos, “sistêmicos”, “complexos”, holísticos e que se atualizam constantemente serão necessários para que essa abordagem se efetive verdadeiramente. 

Talvez hoje o “componente físico” esteja se redimensionando dentro do futebol e não simplesmente sendo “deixado de lado”. Analogamente, o mesmo ATP (sigla referente à adenosinatrifosfato, nossa “moeda energética” dentro do metabolismo) que era responsável por um jogador correr em média 6 km por partida na década de 60, hoje permite que os atletas corram cerca de 12 km. O jogo é o mesmo, as regras são as mesmas, o ATP é o mesmo. Foram apenas 50 anos de evolução. O que mudou? Para terminar essa parte do texto (já que o assunto não se esgotou nesse documento), terminamos com uma pergunta capciosa e polêmica. 

“Será que no futebol ganha quem salta mais? 

Quem corre durante mais tempo? Quem é mais rápido? 

Ou será que normalmente ganha quem joga melhor futebol?”

BIBLIOGRAFIA

“A Ciência do Desporto a Cultura e o Homem”. Jorge Bento e Antonio Marques. Universidade do Porto. Porto, 1993.

“O Planeamento e a Periodização do Treino em Futebol – Um estudo realizado em clubes da Superliga”. Tese de Mestrado. Pedro Manoel de Oliveira Santos. Universidade Técnica de Lisboa, 2006.

“Do pé como técnica ao pensamento técnico dos pés. Dentro da caixa preta da Periodização Tática. – Um estudo de Caso”. Trabalho Conclusão de Curso. Marisa Silva Gomes. Universidade do Porto, Porto, 2006.

* Renato Buscariolli de Oliveira é bacharel em Treinamento Desportivo, mestrando em Biologia Funcional e Molecular - IB, pós-graduando em Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Desportiva e membro do Laboratório de Bioquímica do Exercício - Labex, pela UNICAMP